quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

24/01/2013 -- 08h20

PM é ‘artigo de luxo’ em municípios pequenos

Cidades da Região Metropolitana de Londrina têm número de PMs abaixo do recomendado pela ONU
Fotos: Gina Mardones
"A gente vai se acostumando. Não dá para contar com segurança pública", critica Andreia Cristina de Oliveira
"Dois homens entraram na loja e anunciaram o assalto. Achei que era brincadeira", relata Sandriane
Em Jataizinho, o módulo policial fica fechado depois das 19 horas
Londrina – O Paraná tem pouco mais de 19,5 mil policiais militares, responsáveis pelas segurança em 399 municípios. O deficit é superior a 6,5 mil homens, de acordo com o índice recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A falta de PMs cria situações inusitadas, como a vivida pelos moradores de Bela Vista do Paraíso, na Região Metropolitana de Londrina (RML). Durante o dia apenas uma viatura faz ronda na cidade de pouco mais de 15 mil habitantes.

Seis policiais militares se revezam em turnos de 24 por 48 horas. Enquanto o efetivo faz o trabalho preventivo nas ruas, o comandante do destacamento trabalha sozinho o módulo da PM. Ele é responsável por atender as ligações e denúncias no 190, além de cuidar de assuntos internos.

Bela Vista tem um policial militar para cada 2,1 mil habitantes, quase dez vezes menos do que o sugerido pela ONU, que é de um policial para cada grupo de 250 pessoas. A insegurança é um dos principais assuntos comentados por moradores. "A tranquilidade do passado não existe mais", lamenta a dona de casa Durvalina Rabelo.

Na noite de terça-feira, um homem de 49 anos foi morto na cidade. O servidor público Eudes Justino Passos estava no próprio carro, em frente à casa de parentes, quando dois homens atiraram contra ele. Ninguém foi preso. No ano passado, nenhum homicídio havia sido registrado na cidade.

Circulando pela cidade, não é difícil encontrar vítimas da violência. Na segunda semana de janeiro, foram quatro assaltos a mão armada. Dias antes do Natal também houve uma onda de violência.

Um dos alvos dos criminosos foi uma revenda de celulares. "Estava atendendo uma família quando dois homens entraram na loja e anunciaram o assalto. Achei que era brincadeira. Foi quando um deles abriu o balcão e começou a pegar tudo e o outro encostou o revólver em mim cobrando a entrega do malote de dinheiro", relata a comerciante Sandriane Auguste. O prejuízo ultrapassou os R$ 10 mil.

O posto de combustíveis vizinho também visitado por marginais. "Os bandidos chegaram andando aqui no posto e fizeram o assalto. A cidade cresceu e o efetivo não acompanhou esse desenvolvimento", reclama o gerente Alan Sanches Fernandes.

De acordo com o sargento Gilberto Belarmino, o efetivo atual é inferior ao de duas décadas atrás, quando ele ingressou na corporação. "Temos que trabalhar em escala extra para melhorar a situação do efetivo, mas (esta) é a realidade de uma cidade pequena", comenta.

Primeiro de Maio, outro pequeno município da RML, vive uma realidade semelhante. A cidade de pouco mais de 10 mil habitantes conta com apenas sete policiais militares, o equivalente a um para cada grupo de 1,5 mil moradores.

No início do ano uma família foi feita refém de bandidos e até crianças foram amordaçadas. Já uma comerciante conta que foi roubada três vezes em um intervalo de poucos meses. "A gente vai se acostumando. Não dá para contar com segurança pública", critica Andreia Cristina de Oliveira.

Em Jataizinho, um retrato da falta de efetivo nos pequenos municípios do interior é o módulo policial da cidade, que fica fechado depois das 19 horas. Já a delegacia está desativada há anos.

Juliana Contato Nunes, que morou dez anos no exterior, diz que ainda tem dificuldade para se acostumar com a realidade local. "A gente compara muito a realidade daqui com a da Europa. Esse tipo de problema faz a gente pensar em voltar para a Inglaterra. A gente percebe o tanto de encargos que paga e não há retorno. É um retrato da falta do Estado", avalia a comerciante, que está há quatro meses em Jataizinho. O município conta hoje com um policial militar para cada grupo de 1,6 mil habitantes.

Tamarana tem hoje 12,2 mil habitantes e uma das melhores médias entre as pequenas cidades da RML: um PM para cada grupo de 938 moradores (13 policiais militares atuam na cidade). Esse índice aproxima-se ao de Londrina, que é de um policial militar para cada grupo de 600 habitantes.

"Essa falta de efetivo é reflexo de descasos de governos anteriores, quando houve crescimento demográfico, mas não houve recomposição do quadro de policiais no Estado. Faltou planejamento", desabafa o porta-voz interino do 5º Batalhão da PM, capitão Rogério Martins Ribeiro.

A área de abrangência do 5º BPM inclui os destacamentos de Cambé, Ibiporã e Tamarana. Juntas, as três cidades têm menos de 120 policiais. "Temos que trabalhar com criatividade, redirecionando policiais para não deixar evidente a falta de efetivo", diz Ribeiro.

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