terça-feira, 19 de março de 2013


19/03/2013 -

Governo admite facções em presídios

Ataques contra agentes penitenciários e rebeliões mobilizaram forças de segurança nos últimos dias
Ricardo Chicarelli
Familiares acompanharam a ação do Pelotão de Choque na unidade 2 da Penitenciária Estadual de Londrina
Londrina – O diretor-geral do Departamento de Execução Penal (Depen), Maurício Kuehne, o homem forte do sistema prisional no Estado, admitiu ontem que detentos das 32 unidades administradas pela Secretaria Estadual de Justiça (Seju) fazem parte de facções criminosas. "Negar seria burrice. Não é somente aqui. Estão em todos os presídios do País. Mas, ao contrário de outros Estados, não estamos tendo problemas com estas facções", afirmou Kuehne. 

A declaração do comandante do sistema prisional foi feita em um dia em que a segurança pública do Estado entrou em alerta. Em uma operação que se arrastou por muitas horas, homens do Pelotão de Choque da Polícia Militar vasculharam todas as celas da Penitenciária Estadual de Londrina 2, que abriga cerca de mil presos. De acordo com o próprio Depen, foram encontrados pelo menos 30 celulares. Kuehne informou que os aparelhos serão periciados pelo setor de inteligência das polícias e da Seju. 

Na quarta-feira, outra operação pente-fino ocorreu na unidade 1 da PEL. Quinze aparelhos foram apreendidos e ainda passam por perícia. 

Ontem, a Polícia Civil fez diligências em busca do trio de jovens que incendiou um ônibus na zona norte de Londrina. O atentado aconteceu na noite de domingo, quando três jovens armados renderam o motorista e quatro passageiros que estavam em um ônibus da linha 415 (Jardim Itapoá). Eles roubaram o celular do motorista, que foi obrigado a descer do veículo com o grupo de passageiros. Em seguida, usaram gasolina para atear fogo no ônibus. O ataque, que aconteceu na Rua Simone Cristina Juliana, no Jardim Novo Horizonte, não deixou feridos. O ônibus, no entanto, foi completamente destruído. 

Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que o ataque "tem característica de um ato isolado de vandalismo". A polícia continua investigando um outro ataque a ônibus, feito no dia 24 de fevereiro, em Paiçandu (Região Metropolitana de Maringá). Na ocasião, os bombeiros encontraram um galão de combustível próximo ao veículo com a inscrição PCC, alusão às iniciais da facção Primeiro Comando da Capital, responsável por uma série de ataques em território paulista. 

No final da tarde de ontem, um agente penitenciário foi assassinado no bairro Boa Vista, em Curitiba. Francisco das Chagas Lopes foi morto a tiros por homens que estavam em um veículo prata. Foi o segundo agente penitenciário morto em cinco dias. Quarta-feira passada Valdecir Gonçalves da Silva foi executado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). 

Conforme informações de fontes policiais, negadas categoricamente pela cúpula da Polícia Militar através da assessoria de comunicação, os ataques seriam uma retaliação ao reforço na segurança dos presídios. O Depen também nega. "Não há motivos para retaliação: respeitamos a dignidade da pessoa humana em todas as unidades", afirmou Kuehne. 

Na quinta-feira, uma rebelião na carceragem da 9ª Subdivisão Policial, em Maringá, deixou um detento ferido. O motim durou 13 horas e um agente penitenciário foi tomado refém. Ontem, uma nova rebelião foi registrada em Arapongas (ver box). "O ideal é que fizéssemos operações de varredura nos presídios a cada 15 dias. Mas não há disponibilidade de pessoal. Mas vamos continuar fazendo estas ações com frequência", avisou. Sobre o possível bloqueio do sinal dos celulares nas unidades prisionais, o diretor do Depen foi enfático: "Não há tecnologia no Brasil com eficiência comprovada para deter as ligações. Mas a maioria dos presos usa o celular apenas para se comunicar com a família." 

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